sexta-feira, 27 de abril de 2012

Células-tronco e a "moral" religiosa.


      Hoje, o texto não será de minha autoria.
      Deixarei para vocês, religiosos ou não, um trecho do livro "Carta a uma nação cristã", de Sam Harris, que fala sobre a moral cristã, tendo como base as células-tronco.
      Leiam até o final e, concordando ou não, podem deixar o ponto de vista de vocês - vou gostar de saber!
      Boa leitura e boa reflexão =]

      "Um dos defeitos mais perniciosos da religião é que ela tende a divorciar a moral da realidade do sofrimento dos seres humanos e dos animais [...] Isso explica por que cristãos como você gastam mais energia "moral" fazendo oposição ao aborto do que lutando conta o genocídio. Explica por que você está mais preocupado com os embriões humanos do que com a possibilidade de salvar vidas, oferecida pela pesquisa com células-tronco.
      [...]
      Aqui estão os fatos: a pesquisa com células-tronco é um dos avanços mais promissores da medicina no último século. Pode oferecer avanços revolucionários  no tratamento de todas as doenças e processos perniciosos que atingem o ser humano - pela simples razão de que as células-tronco dos embriões podem se transformar em qualquer tecido do corpo humano [...] É verdade, claro, que a pesquisa com células-tronco acarreta a destruição de embriões humanos de três dias de idade. É com isso que você se preocupa.
      Vejamos os detalhes. Um embrião humano é um agrupamento de 150 células chamado blastocisto. Existem, para efeito de comprovação, mais de 100 mil células no cérebro de uma mosca. Os embriões humanos que são destruídos nas pesquisas com células-tronco não têm cérebro, nem sequer neurônios. Assim, não há razão para acreditar que eles possam sentir qualquer tipo de sofrimento, de maneira alguma.Nesse contexto, vale a pena lembrar que, quando ocorre a morte cerebral, atualmente julgamos aceitável extrair os órgãos da pessoa [...] Se é aceitável tratar uma pessoa cujo cérebro morreu como algo menos que um ser humano, deveria ser aceitável tratar do mesmo modo um blastocisto. Se você está preocupado com o sofrimento que ocorre neste universo, matar uma mosca deveria lhe apresentar dificuldades maiores do que matar um blastocisto humano.
      Talvez você ache que a diferença crucial entre uma mosca e um blastocisto humano está no potencial deste último em tornar-se um ser humano plenamente desenvolvido.
      [...]
      Mas vamos admitir, por enquanto, que cada embrião humano de três dias de idade tenha uma alma merecedora da nossa preocupação moral. Os embriões nesse estágio por vezes se dividem, tornando-se duas pessoas separadas (gêmeos idênticos). Será que nesse caso uma só alma se dividiu em duas? Por outro lado, às vezes dois embriões se fundem em um único indivíduo, chamado “quimera”. Talvez você, ou alguém que você conhece, tenha se desenvolvido dessa maneira. Não há dúvidas de que, neste momento, há teólogos se esforçando para decidir o que acontece com a alma humana em um caso assim.
      Será que já não é hora de reconhecermos que essa aritmética de almas não faz nenhum sentido? [...] As suas crenças a respeito da alma humana estão, neste exato momento, prolongando o sofrimento atroz de dezenas de milhões de seres humanos.
      Você acredita que “a vida começa no momento da concepção”. E você acredita que existem almas em cada um desses blastocistos e que os interesses de uma alma – digamos, a alma de uma menininha com queimaduras em 75% do corpo – não podem predominar sobre os interesses de outra alma, mesmo que essa alma viva dentro de um tubo de ensaio.
      [...]
      A verdade moral aqui é óbvia: qualquer pessoa que creia que os interesses de um blastocisto podem prevalecer sobre os interesses de uma criança com uma lesão na espinha dorsal está com seu senso moral cegado pela metafísica religiosa. O vínculo entre a religião e a “moral” – tão proclamado e tão poucas vezes demonstrado – fica aqui totalmente desmascarado, tal como acontece sempre que o dogma religioso prevalece sobre o raciocínio moral e a compaixão genuína.”


2 comentários:

  1. A ideia de corpo como receptáculo da alma realmente foi abalada com os avanços da ciência.
    É possível imaginar que algo sem vida possa ter uma alma?
    Com os avanços científicos, é possível formar um embrião a partir de virtualmente qualquer tecido humano. Considerando que eu pegue um pedaço da minha pele e através de biologia molecular o transforme em um zigoto, passível de ser implantado em um útero e gerar um indivíduo idêntico geneticamente a mim. Minha alma foi copiada? Ou a composição do receptáculo não define seu conteúdo?
    Se considerarmos somente as potencialidades, qualquer parte de qualquer tecido humano pode gerar uma nova vida, mesmo que com intervenção humana. Assim, se sangrarmos, perdermos sangue em um machucado ou até mesmo só no ato de urinar, estaremos "negando" a diversas células nossas a possibilidade de vir a formar um novo indivíduo.

    Mas aí vem a tona uma questão ainda mais complexa... As leis da sobrenaturalidade cristã se aplicam somente a embriões criados "naturalmente"? Será que é fadado somente aos que forem formados diretamente pela união de gametas o direito a ter uma alma?

    Realmente as regras divinas são incoerentes com as regras naturais... Resta saber o quê está errado: o que dizem os sacerdotes em nome de Deus, ou todo o universo.

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    1. Lucas...
      Valeu por acrescentar ainda mais conteúdo nesta postagem!!! Muito legal!!!
      Agora, é uma pena muitas pessoas considerarem "todo o universo" como o "errado". E a resposta final é "o mistério da fé" - isso responde tudo que não tem resposta...

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