quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A morte e a Vida Eterna.

Quando eu era adolescente, chorava só de imaginar que meus pais ou meus irmãos morreriam um dia. Hoje, evito pensar nisso, mas, se penso, ainda choro. Eu tinha uma forma reconfortante de lidar com a morte deles: era só eu morrer primeiro! Porém, fui entendendo que era muita covardia minha ter esse desejo. Aí, eu comecei a desenvolver outra estratégia que me reconfortasse, se todos morrêssemos juntos, nenhum de nós sofreria! Mas, já temos novas famílias, e amigos, e parentes... é meio improvável que ninguém sofra. Decidi, então, não decidir mais nada, já que não tenho esse poder, mesmo. Só espero que demore muuuuito o último dia, tanto da minha vida, como o das pessoas que eu amo.
Certo dia, fui ao velório da avó de um colega meu, e ele me disse que a morte era a única certeza da vida e que, mesmo assim, não a aceitamos. Como aceitar a morte? Ela vai de encontro ao que aprendemos durante toda a vida: amor, união, família... É, no mínimo, complicado entender que um dia tudo acaba. E, mais complicado ainda, entender por que tudo começou.
Compreendo a necessidade de se acreditar na Vida Eterna. E até acredito! Tem que haver alguma coisa depois! Eu tenho que me encontrar com alguém que vá explicar as questões que, aqui na terra, não têm respostas. Caso contrário, vou me sentir como um ratinho de laboratório, que foi colocado no mundo sob uma vigilância superior, e que vive a mercê de forças maiores, sem saber pra que veio e nem pra onde vai.
Por causa da recompensa divina – a vida eterna –, pessoas aceitam a infelicidade nessa vida - a real. Vivem infelizes em casamentos desgastados; insatisfeitas no emprego; aparentam ser o que não são; têm uma vida que não é a desejada... e isso para quê? A esperança de algo maior e, até mesmo, mágico depois da morte deixa o sentimento de que os acontecimentos da vida não são tão importantes. Conheço gente que não é feliz e não faz nada para mudar esta realidade, pois o reconhecimento virá depois, com a tal da vida eterna.  E se nada disso existir?
Passamos a maior parte de nossas vidas trabalhando – para, um dia, nos aposentarmos e, aí, termos o merecido descanso e aproveitar o tempo para aproveitar a vida. Que paradoxo! É necessário estarmos mais perto da morte – pois a cada dia, de fato, estamos – para pensarmos em curtir a família melhor, passear – se o dinheiro der –, e fazer tantas outras coisas. Não concordo com a ideia de que idosos não tenham por que sonhar e realizar seus sonhos por causa da idade. Não mesmo!!! Mas, mais um dia de vida significa menos um dia de vida – muito pessimista isso, né!?. É uma ideia antiga, do barroco, e tem um “fundinho” de verdade, por mais “dark” que seja.
Eita, mundinho confuso esse!
Só gostaria de uma coisa depois de morta: ter uma entrevista com Deus.
            Porém, como tem gente que acredita que a morte é o fim e ponto, e que o céu e o inferno são aqui... Vamos tratar de viver, e viver bem!

2 comentários:

  1. Olá Pequena. Você sabe exprimir seus sentimentos de maneira admirável, nem todos conseguem refletir bem sobre suas angústias. Achei interessante a colocação acerca da alienação do ser humano, através da religião, à sua realidade, uma pena, já que a igreja sempre foi militante junto aos necessitados. Muitos modelos religiosos existentes hoje mascaram essa verdade.
    Quanto à dor da perda, essa contrariedade, que está presente nesse "mundinho confuso" repleto de situações díspares, faz parte de um processo de amadurecimento para todos os seres humanos. Quando entendemos e aceitamos que a vida possui restrições, frustrações, incompletudes passamos a crescer. A morte traz consigo o sentimento de egoísmo, pois jamais queremos deixar ou perder o que é nosso. Não falo unicamente do que ouço, mas do que vivo. Como não posso me estender mais em meu comentário, paro por aqui, se não ao invés de comentário seria uma réplica. Até a próxima.

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  2. Muito bem colocado, rafa. A morte também nos mostra o quão somos pequenos e, que apesar de sermos considerados superiores aos outros animais, temos um fim semelhante ao deles.

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